Art, // December 20, 2021
Beyond the transmutation of ART? — João Pedro Marques
Crónica João Pedro Marques
Para além da transmutação da arte?
E se rejeitássemos a metafísica da arte? A filosofia que a valoriza ou desvaloriza e se abordássemos a arte através de uma perspectiva de pensamento crítico, objectivo e racional? De certa forma muitos artistas, teóricos e gestores do mundo da arte poderiam sentir-se ofendidos com esta perspectiva. Mas, vamos experimentar esta abordagem racional e objectiva. Vamos rejeitar a opinião das preferências subjetivas de cada pessoa com ou sem conhecimentos de arte.
O início…
A pintura rupestre das cenas de caça podem ser os primeiros registos de arte no mundo, registando a estratégia de sobrevivência do homem pré-histórico. O pensamento criativo criou objectos úteis para a vida quotidiana, através da ciência, arte e engenho… o “pensamento fora da caixa” da própria criatividade. Mais tarde, temos o Renascimento ( sec XIV e XVI) ou o “século das Luzes” em que nomes como Leonardo Da Vinci e Miguel Angelo apresentam obras artísticas que se inserem no chamado Realismo incluindo figuras da mitologia greco/romana, o espiritual e o celeste sagrado. Nunca a arte foi tão elevada e rigorosa como neste movimento histórico. Contudo, segue-se a deformação da arte através da subjectividade dos artistas, ao criarem-se desta forma as vanguardas contemporâneas entre o sec XIX e sec XX. O realismo é deformado através do cubismo, impressionismo, expressionismo, surrealismo, expressionismo abstracto… e entramos no self made do DADA de Duchamp e da arte conceptual, em que exposição em contexto de instalação, eleva o conceito sobre o objecto ou técnica artística.
Talvez seja o expoente máximo da metafísica e do absurdo. A nível filosófico o sec XX é o século do Existencialismo e do pensamento contemporâneo eclético (em que se conjugam o pensamento crítico, pensamento mitológico e o pensamento religioso). O sec XX foi o século de guerras mundiais, destruição e renovação. Sem estas mesmas guerras no contexto europeu e americano, seria impossível estilos artísticos como o expressionismo abstracto e o informalismo existirem e mais tarde o neo- expressionismo e o neo-plasticismo. Foi a panóplia perfeita de valores sociais e filosóficos que criou o que podemos chamar de Arte Contemporânea. É o Ecleticismo. No Ecleticismo situa-se que a panóplia de valores, experiências e subjetividade criam e apresentam o objecto de arte. Então, tudo é arte e pode ser apresentado como tal, independentemente da técnica, conceito ou estilo. É extremamente difícil portanto avaliar o que é uma “verdadeira obra de arte.”
Contudo, existem agentes sociais artísticos com conhecimentos e experiência para que possam selecionar a “arte boa” e a “arte má”… uma tarefa que pode ser bastante árdua e ingrata. Se virmos o meio social como um mecanismo, entendemos que este mecanismo funciona através do capital de Marx e no campo da sociologia e psicologia social das massas. Estamos inseridos no mundo das elites, rótulos e “selecção natural” nos determinados contextos.
Esta foi a introdução à crónica que agora irei salientar. Em pleno século XXI vivemos no mundo das redes sociais digitais. Estamos neste preciso momento a entrar no domínio tecnológico digital com as redes como o Facebook, instagram, Twitter entre outras e é admirável o excesso que informação que é transmitida por milhões de pessoas nestas redes. Nunca a arte foi tão “volátil” e “fútil” como passa nestas redes em que a “valorização” do objecto artístico poderá ser medido através do número de “likes” ou de “followers” nestas páginas. É a moda do “narcisismo” digital, autoadmiração, vaidade e do vazio. É a sociedade do espectáculo de Lipovetski (A Era do Vazio). Nunca foi relatado tantos seguidores do expressionismo abstracto “pollockiano” ou de “pouring” como se observa nestas redes sociais, muitas vezes apresentados com a “obra artística” e a “obra biológica” em trajes menores, em que o observador poderá ficar confuso sobre qual dos objectos deverá ser de sua atenção, pois ambos equiparam-se e complementam-se. Certamente é uma jogada de marketing com um número elevado de visualizações em rede. Mas, existe desta forma um público alvo artístico? Todo o artista deseja de certa forma ser valorizado e a sua valorização é adquirida internamente (através de si próprio) ou externamente (através dos outros agentes sociais).
Actualmente, é difícil criar arte “nova”. As ferramentas/programas digitais permitem oferecer uma outra perspectiva da arte, como a pintura digital (podendo ser criada através de programas edição de imagem como o conhecido Photoshop). A Necessidade poderá ser uma outra perspectiva da arte a nível da satisfação das necessidades do artista, cliente e galerista/curador/agente artístico. Resta-nos portanto, a lógica do bom senso neste Ecleticismo, que poderia ser optar fortemente na originalidade e criatividade sem 80% da arte assemelhar-se a uma linha de produção de objectos iguais a uma cópia de uma cópia em que só pode diferir o número de série (se este número existir).
E para isto é necessária a subjectividade do factor humano do artista. As suas capacidades artísticas e técnicas, conhecimentos, experiência de vida, afectos e ideias. O Artista deverá saber expressar-se a si próprio com eficácia através do seu objecto artístico, a sua Obra de Arte. E por sua vez, o meio social artístico possuir a capacidade de reconhecer este mesmo artista através de uma avaliação objectiva e subjectiva de sua obra.
A arte é um produto da sociedade e representa esta mesma sociedade. Esta crónica foi escrita com a tentativa da ausência de qualquer opinião subjectiva face ao mundo da arte actual. Não existe qualquer opinião de carácter pessoal (seja preferência ou influência). Neste recomeço, deixo ficar a ideia de transmutação da arte, através dos esforços para a originalidade dos futuros objectos artísticos que poderão ser apreciados socialmente.
João Pedro Marques
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Olívia da Costa é o nosso correspondente de artes para a Arts Illustrated em Portugal.
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